Manifesto pela libertação dos vegetais
Bilhões de vegetais inocentes são brutalmente arrancados de
suas covas anualmente por nossa espécie. Esse massacre desumanizador pode ser
perfeitamente evitado, desde que se deixe de rebaixar cenouras, batatas, couves
e outros legumes ao status de meras propriedades do ser humano.
Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization) das Nações
Unidas, cerca de 314 milhões de toneladas de batatas são levadas para a panela
anualmente para simples alimentação. A cada dia milhões de tomates, cenouras,
chuchus e outros vegetais são submetidos à selvageria humana. Apesar das
inovações e o avanço tecnológico dos últimos anos, continuamos utilizando esse
tipo de alimento em nossa dieta.
Os vegetais continuam sujeitos aos maus tratos, confinados
em grandes propriedades, submetidos a defensivos agrícolas, agrotóxicos. Apesar
de tudo ainda são mantidos em condições de produção apavorantes, mutilados de
diversas maneiras, transportados por longas distâncias em compartimentos
exíguos e insalubres, para, finalmente, serem executados em silêncio, em ambientes
fétidos e imundos de um Ceasa ou feirão.
As frutas não estão em situação melhor. No mundo são
consumidos cerca de 74,4 milhões de toneladas de laranjas por ano e cerca de
66,3 milhões de toneladas de bananas. Milhões de bananas também são utilizadas
em práticas hétero/homossexuais, sendo introduzidas de forma banal em orifícios
apertados e insalubres. Anualmente 120 toneladas de tomates são desperdiçadas
em uma guerra promovida na cidade de Buñol na Espanha.
A moda e a indústria da beleza submetem mamões, cocos,
abacaxis e outras frutas para a produção de cosméticos. Essa prática permissiva
tem apenas uma explicação: Saciar a sede de vaidade de mulheres ao redor do
mundo. Frutas, verduras e legumes são expostos em balcões de supermercados,
destinados a um fim doloroso nas afiadas facas de gourmets e finalmente jogados
em água fervente em um ritual ultrapassado e selvagem.
Ainda hoje os vegetais, frutos e legumes são considerados
objetos. Se para Descartes, um gemido de cão era semelhante ao rangido de um
mecanismo que precisasse de óleo. O que ele diria em relação ao silêncio dos
legumes diariamente sacrificados pelo homem.
O princípio humanista da preparação de alimentos e a
aplicação de leis sobre o bem-estar vegetal que dele resulte, supõe que
aceitemos perguntar a nós mesmos se o sofrimento vegetal é indispensável. Se o
fato de não utilizar os vegetais para nosso conforto causaria a nós mais
prejuízo do que o sofrimento causado aos vegetais. Em geral, o interesse humano
prevalece, e o sofrimento de frutas e verduras é considerado “um mal necessário”.
Para que uma proibição do sofrimento de legumes, frutas e
verduras tenha algum alcance, é preciso que condene qualquer dor infringida
unicamente por prazer (alimentação), diversão (Introdução anal) ou conveniência
(guerra de tomates). Usar um xampu de mamão, impor as cenouras múltiplos testes
para produtos sexuais ou novas marcas de cremes não tem relação nenhum com
interesse vital para o ser humano. Comer vegetais é considerado nocivo à saúde
pela maior parte dos gaúchos. Aliás, especialistas em ecologia apontaram os
danos que a criação intensiva causa ao nosso meio ambiente. Para cada quilo de
arroz é necessário o consumo de 3400 litros de água, considerando que o homem
come muito mais arroz que carne proporcionalmente, o consumo de vegetais se
torna mais nocivo para a ecologia que o consumo de animais.
Propriedade, base para a escravidão
A incoerência entre nossos atos e nossos pensamentos a
respeito dos vegetais vem da ideia que eles não sentem nada. A partir do
momento que se trata de interesses econômicos, não existe mais limite para a
utilização ou para o tratamento abusivo de nossas batatinhas e cenouras.
A produção intensiva, por exemplo, é autorizada porque se
trata de uma exploração institucionalizada e aceita. Os industriais da
agricultura avaliam que as práticas de infestar os vegetais com agrotóxicos,
sejam quais forem os efeitos e o sofrimento suportado por eles, são normais e
necessários. Isso tem que acabar.
Libertar a cenoura, objetivo humanista
A tese segundo a qual os seres humanos são dotados de
características mentais completamente ausentes nos legumes é contraditória.
Darwin afirmava que não existem características exclusivamente humanas. Não existe característica do ser humano que
justifique o fato de que tratemos os vegetais como uma propriedade mercantil.
Por conseguinte, a questão central não é: os vegetais podem raciocinar? Ou:
podem falar? Mas, precisamente: eles podem sofrer?
Se queremos que seus interesses sejam respeitados, temos que
conceder-lhes apenas um direito: o de não serem mais equiparados a uma simples
mercadoria.
Por isso, esse manifesto é a favor do churrasco, grelhado de
frango, porco e todo tipo de animal que nade, rasteje, ande, voe e que não
articule uma palavra. Com exceção de pets fofos que escravizamos pelo simples
prazer de confiná-los em um apartamento minúsculo que mal é projetado para a
sobrevivência de um humano. Submetendo-os ao estresse, mas isso não importa,
afinal é melhor ter um pet e achar que ele é humano, um ícone moderno para o
descarrego das frustrações amorosas, profissionais e sentimentais que o homem
moderno é sumetido.
Viva os legumes, viva os vegetais, viva a cenoura e
Amém ao nosso churrasco dominical.
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